A prece da benzeção
Com amor e dedicação fiz uma faxina nesta ocasião. Com o perfume de unção, usei sabão da oração. A cada detalhe observei nos cantinhos mágoas, nas teias de aranha, culpas que carregamos entulhadas ao longo de um esquecimento indefinido e tardio. Tirando o mofo grudado da raiva, vasculhando o pó da indiferença. Em cada gaveta, organizava a tristeza, separando a angústia da falta de perdão. Varria a sujeira dos maus pensamentos, encostando na dolorosa ferida que, com o tempo, às vezes inflamava pelo vazio da aridez espiritual. Puxava com o rodo a carência de atenção e lustrava com lágrimas o espelho da intolerância. A cada lembrança dolorosa, entregava a Deus como ofertório da paciência, reparando a imundície das discórdias. A cada cômodo, rezava uma Ave Maria para as feridas das grosserias e reconciliação dos traumas. Louvando, jogava água benta para espantar maus fluídos. Os vidros embaçados pela falta de valorização. Maus odores, podia sentir a infecção dos ressentimentos do coração, desinfetando com o auxílio da graça a descarga da ingratidão. Ao jogar fora os lixos do orgulho e combater as bactérias e fungos, percebemos o quanto somos miseráveis. No profundo silêncio, contemplava a fraqueza da infidelidade. Mergulhando no vasto mistério da fé, esbarrava no limite da ignorância. Ao limpar a casa da saudade. Eitaaa desilusão! É sofrer duas vezes. Que decepção! Nunca se ouviu dizer que quem nunca combateu lembranças dolorosas não saberá o verdadeiro valor da limpeza. Ao invés de fofocar e recordar amarguras, pegue a vassoura. A realidade dos vícios pra esquecer não é a solução, bota um avental e espana-dor. Então, só assim, limpando, aprendemos a lição da gata borralheira. Somos aprendiz. Se isso é um incentivo, não sei. Só sei que lavando e limpando essa história é real e, pra finalizar, não tem outra opção. Se quiser entender na prática a natureza humana, fica a instrução.
Juliana Amorim Alves
Enviado por Juliana Amorim Alves em 16/07/2024
Alterado em 13/08/2024
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